quarta-feira, 28 de setembro de 2011

RETROSPECTIVA DO LULA

Não adianta a oposição midiática distorcer os fatos. O Cara entrou para a história "deste país" de "verde e amarelo, azul e branco". Ainda bem que Ele existe para Todas e Todos, sempre.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Integra do discurso de Dilma na Assembleia da ONU

21/09/2011 - 12h22










A presidente Dilma Rousseff foi nesta quarta-feira a primeira mulher a abrir a Assembleia Geral da ONU, em Nova York.


"Senhor presidente da Assembleia Geral, Nassir Abdulaziz Al-Nasser,
Senhor secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon,
Senhoras e senhores chefes de Estado e de Governo,
Senhoras e senhores,

Pela primeira vez, na história das Nações Unidas, uma voz feminina inaugura o Debate Geral. É a voz da democracia e da igualdade se ampliando nesta tribuna que tem o compromisso de ser a mais representativa do mundo.

É com humildade pessoal, mas com justificado orgulho de mulher, que vivo este momento histórico.

Divido esta emoção com mais da metade dos seres humanos deste Planeta, que, como eu, nasceram mulher, e que, com tenacidade, estão ocupando o lugar que merecem no mundo. Tenho certeza, senhoras e senhores, de que este será o século das mulheres.

Na língua portuguesa, palavras como vida, alma e esperança pertencem ao gênero feminino. E são também femininas duas outras palavras muito especiais para mim: coragem e sinceridade. Pois é com coragem e sinceridade que quero lhes falar no dia de hoje.

Senhor Presidente,

O mundo vive um momento extremamente delicado e, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade histórica. Enfrentamos uma crise econômica que, se não debelada, pode se transformar em uma grave ruptura política e social. Uma ruptura sem precedentes, capaz de provocar sérios desequilíbrios na convivência entre as pessoas e as nações.

Mais que nunca, o destino do mundo está nas mãos de todos os seus governantes, sem exceção. Ou nos unimos todos e saímos, juntos, vencedores ou sairemos todos derrotados.

Agora, menos importante é saber quais foram os causadores da situação que enfrentamos, até porque isto já está suficientemente claro. Importa, sim, encontrarmos soluções coletivas, rápidas e verdadeiras.

Essa crise é séria demais para que seja administrada apenas por uns poucos países. Seus governos e bancos centrais continuam com a responsabilidade maior na condução do processo, mas como todos os países sofrem as conseqüências da crise, todos têm o direito de participar das soluções.

Não é por falta de recursos financeiros que os líderes dos países desenvolvidos ainda não encontraram uma solução para a crise. É, permitam-me dizer, por falta de recursos políticos e algumas vezes, de clareza de ideias.

Uma parte do mundo não encontrou ainda o equilíbrio entre ajustes fiscais apropriados e estímulos fiscais corretos e precisos para a demanda e o crescimento. Ficam presos na armadilha que não separa interesses partidários daqueles interesses legítimos da sociedade.

O desafio colocado pela crise é substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo. Enquanto muitos governos se encolhem, a face mais amarga da crise - a do desemprego - se amplia. Já temos 205 milhões de desempregados no mundo. 44 milhões na Europa. 14 milhões nos Estados Unidos. É vital combater essa praga e impedir que se alastre para outras regiões do Planeta.

Nós, mulheres, sabemos, mais que ninguém, que o desemprego não é apenas uma estatística. Golpeia as famílias, nossos filhos e nossos maridos. Tira a esperança e deixa a violência e a dor.

Senhor Presidente,

É significativo que seja a presidenta de um país emergente, um país que vive praticamente um ambiente de pleno emprego, que venha falar, aqui, hoje, com cores tão vívidas, dessa tragédia que assola, em especial, os países desenvolvidos.

Como outros países emergentes, o Brasil tem sido, até agora, menos afetado pela crise mundial. Mas sabemos que nossa capacidade de resistência não é ilimitada. Queremos - e podemos - ajudar, enquanto há tempo, os países onde a crise já é aguda.

Um novo tipo de cooperação, entre países emergentes e países desenvolvidos, é a oportunidade histórica para redefinir, de forma solidária e responsável, os compromissos que regem as relações internacionais.

O mundo se defronta com uma crise que é ao mesmo tempo econômica, de governança e de coordenação política.

Não haverá a retomada da confiança e do crescimento enquanto não se intensificarem os esforços de coordenação entre os países integrantes da ONU e as demais instituições multilaterais, como o G-20, o Fundo Monetário, o Banco Mundial e outros organismos. A ONU e essas organizações precisam emitir, com a máxima urgência, sinais claros de coesão política e de coordenação macroeconômica.

As políticas fiscais e monetárias, por exemplo, devem ser objeto de avaliação mútua, de forma a impedir efeitos indesejáveis sobre os outros países, evitando reações defensivas que, por sua vez, levam a um círculo vicioso.

Já a solução do problema da dívida deve ser combinada com o crescimento econômico. Há sinais evidentes de que várias economias avançadas se encontram no limiar da recessão, o que dificultará, sobremaneira, a resolução dos problemas fiscais.

Está claro que a prioridade da economia mundial, neste momento, deve ser solucionar o problema dos países em crise de dívida soberana e reverter o presente quadro recessivo. Os países mais desenvolvidos precisam praticar políticas coordenadas de estímulo às economias extremamente debilitadas pela crise. Os países emergentes podem ajudar.

Países altamente superavitários devem estimular seus mercados internos e, quando for o caso, flexibilizar suas políticas cambiais, de maneira a cooperar para o reequilíbrio da demanda global.

Urge aprofundar a regulamentação do sistema financeiro e controlar essa fonte inesgotável de instabilidade. É preciso impor controles à guerra cambial, com a adoção de regimes de câmbio flutuante. Trata-se, senhoras e senhores, de impedir a manipulação do câmbio tanto por políticas monetárias excessivamente expansionistas como pelo artifício do câmbio fixo.

A reforma das instituições financeiras multilaterais deve, sem sombra de dúvida, prosseguir, aumentando a participação dos países emergentes, principais responsáveis pelo crescimento da economia mundial.

O protecionismo e todas as formas de manipulação comercial devem ser combatidos, pois conferem maior competitividade de maneira espúria e fraudulenta.

Senhor Presidente,

O Brasil está fazendo a sua parte. Com sacrifício, mas com discernimento, mantemos os gastos do governo sob rigoroso controle, a ponto de gerar vultoso superávit nas contas públicas, sem que isso comprometa o êxito das políticas sociais, nem nosso ritmo de investimento e de crescimento.

Estamos tomando precauções adicionais para reforçar nossa capacidade de resistência à crise, fortalecendo nosso mercado interno com políticas de distribuição de renda e inovação tecnológica.

Há pelo menos três anos, senhor Presidente, o Brasil repete, nesta mesma tribuna, que é preciso combater as causas, e não só as consequências da instabilidade global.

Temos insistido na interrelação entre desenvolvimento, paz e segurança; e que as políticas de desenvolvimento sejam, cada vez mais, associadas às estratégias do Conselho de Segurança na busca por uma paz sustentável.

É assim que agimos em nosso compromisso com o Haiti e com a Guiné-Bissau. Na liderança da Minustah, temos promovido, desde 2004, no Haiti, projetos humanitários, que integram segurança e desenvolvimento. Com profundo respeito à soberania haitiana, o Brasil tem o orgulho de cooperar para a consolidação da democracia naquele país.

Estamos aptos a prestar também uma contribuição solidária, aos países irmãos do mundo em desenvolvimento, em matéria de segurança alimentar, tecnologia agrícola, geração de energia limpa e renovável e no combate à pobreza e à fome.

Senhor Presidente,

Desde o final de 2010, assistimos a uma sucessão de manifestações populares que se convencionou denominar "Primavera Árabe". O Brasil é pátria de adoção de muitos imigrantes daquela parte do mundo. Os brasileiros se solidarizam com a busca de um ideal que não pertence a nenhuma cultura, porque é universal: a liberdade.

É preciso que as nações aqui reunidas encontrem uma forma legítima e eficaz de ajudar as sociedades que clamam por reforma, sem retirar de seus cidadãos a condução do processo.

Repudiamos com veemência as repressões brutais que vitimam populações civis. Estamos convencidos de que, para a comunidade internacional, o recurso à força deve ser sempre a última alternativa. A busca da paz e da segurança no mundo não pode limitar-se a intervenções em situações extremas.

Apoiamos o Secretário-Geral no seu esforço de engajar as Nações Unidas na prevenção de conflitos, por meio do exercício incansável da democracia e da promoção do desenvolvimento.

O mundo sofre, hoje, as dolorosas consequências de intervenções que agravaram os conflitos, possibilitando a infiltração do terrorismo onde ele não existia, inaugurando novos ciclos de violência, multiplicando os números de vítimas civis.

Muito se fala sobre a responsabilidade de proteger; pouco se fala sobre a responsabilidade ao proteger. São conceitos que precisamos amadurecer juntos. Para isso, a atuação do Conselho de Segurança é essencial, e ela será tão mais acertada quanto mais legítimas forem suas decisões. E a legitimidade do próprio Conselho depende, cada dia mais, de sua reforma.

Senhor Presidente,

A cada ano que passa, mais urgente se faz uma solução para a falta de representatividade do Conselho de Segurança, o que corrói sua eficácia. O ex-presidente Joseph Deiss recordou-me um fato impressionante: o debate em torno da reforma do Conselho já entra em seu 18º ano. Não é possível, senhor Presidente, protelar mais.

O mundo precisa de um Conselho de Segurança que venha a refletir a realidade contemporânea; um Conselho que incorpore novos membros permanentes e não-permanentes, em especial representantes dos países em desenvolvimento.

O Brasil está pronto a assumir suas responsabilidades como membro permanente do Conselho. Vivemos em paz com nossos vizinhos há mais de 140 anos. Temos promovido com eles bem-sucedidos processos de integração e de cooperação. Abdicamos, por compromisso constitucional, do uso da energia nuclear para fins que não sejam pacíficos. Tenho orgulho de dizer que o Brasil é um vetor de paz, estabilidade e prosperidade em sua região, e até mesmo fora dela.

No Conselho de Direitos Humanos, atuamos inspirados por nossa própria história de superação. Queremos para os outros países o que queremos para nós mesmos.

O autoritarismo, a xenofobia, a miséria, a pena capital, a discriminação, todos são algozes dos direitos humanos. Há violações em todos os países, sem exceção. Reconheçamos esta realidade e aceitemos, todos, as críticas. Devemos nos beneficiar delas e criticar, sem meias-palavras, os casos flagrantes de violação, onde quer que ocorram.

Senhor Presidente,

Quero estender ao Sudão do Sul as boas vindas à nossa família de nações. O Brasil está pronto a cooperar com o mais jovem membro das Nações Unidas e contribuir para seu desenvolvimento soberano. Mas lamento ainda não poder saudar, desta tribuna, o ingresso pleno da Palestina na Organização das Nações Unidas. O Brasil já reconhece o Estado palestino como tal, nas fronteiras de 1967, de forma consistente com as resoluções das Nações Unidas. Assim como a maioria dos países nesta Assembléia, acreditamos que é chegado o momento de termos a Palestina aqui representada a pleno título.

O reconhecimento ao direito legítimo do povo palestino à soberania e à autodeterminação amplia as possibilidades de uma paz duradoura no Oriente Médio. Apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios de Israel por paz com seus vizinhos, segurança em suas fronteiras e estabilidade política em seu entorno regional.

Venho de um país onde descendentes de árabes e judeus são compatriotas e convivem em harmonia - como deve ser.

Senhor Presidente,

O Brasil defende um acordo global, abrangente e ambicioso para combater a mudança do clima no marco das Nações Unidas. Para tanto, é preciso que os países assumam as responsabilidades que lhes cabem.

Apresentamos uma proposta concreta, voluntária e significativa de redução [de emissões], durante a Cúpula de Copenhague, em 2009. Esperamos poder avançar já na reunião de Durban, apoiando os países em desenvolvimento nos seus esforços de redução de emissões e garantindo que os países desenvolvidos cumprirão suas obrigações, com novas metas no Protocolo de Quioto, para além de 2012.

Teremos a honra de sediar a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho do ano que vem. Juntamente com o Secretário-Geral Ban Ki-moon, reitero aqui o convite para que todos os Chefes de Estado e de Governo compareçam.

Senhor Presidente e minhas companheiras mulheres de todo mundo,

O Brasil descobriu que a melhor política de desenvolvimento é o combate à pobreza. E que uma verdadeira política de direitos humanos tem por base a diminuição da desigualdade e da discriminação entre as pessoas, entre as regiões e entre os gêneros.

O Brasil avançou política, econômica e socialmente sem comprometer sequer uma das liberdades democráticas. Cumprimos quase todos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, antes 2015. Saíram da pobreza e ascenderam para a classe média no meu país quase 40 milhões de brasileiras e brasileiros. Tenho plena convicção de que cumpriremos nossa meta de, até o final do meu governo, erradicar a pobreza extrema no Brasil.

No meu país, a mulher tem sido fundamental na superação das desigualdades sociais. Nossos programas de distribuição de renda têm nas mães a figura central. São elas que cuidam dos recursos que permitem às famílias investir na saúde e na educação de seus filhos.

Mas o meu país, como todos os países do mundo, ainda precisa fazer muito mais pela valorização e afirmação da mulher. Ao falar disso, cumprimento o secretário-geral Ban Ki-moon pela prioridade que tem conferido às mulheres em sua gestão à frente das Nações Unidas.

Saúdo, em especial, a criação da ONU Mulher e sua diretora-executiva, Michelle Bachelet.

Senhor Presidente,

Além do meu querido Brasil, sinto-me, aqui, representando todas as mulheres do mundo. As mulheres anônimas, aquelas que passam fome e não podem dar de comer aos seus filhos; aquelas que padecem de doenças e não podem se tratar; aquelas que sofrem violência e são discriminadas no emprego, na sociedade e na vida familiar; aquelas cujo trabalho no lar cria as gerações futuras.

Junto minha voz às vozes das mulheres que ousaram lutar, que ousaram participar da vida política e da vida profissional, e conquistaram o espaço de poder que me permite estar aqui hoje.

Como mulher que sofreu tortura no cárcere, sei como são importantes os valores da democracia, da justiça, dos direitos humanos e da liberdade.

E é com a esperança de que estes valores continuem inspirando o trabalho desta Casa das Nações que tenho a honra de iniciar o Debate Geral da 66ª Assembleia Geral da ONU.

Muito obrigada."

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Ataque à raiz da corrupção

IDELBER AVELAR*, TENDÊNCIAS/DEBATES na Folha

18/09/2011

O financiamento público de campanha torna mais fácil a fiscalização e, se não acaba com legendas de aluguel, complica sua existência

Pesquisa recente da agência APPM dá a medida de como se realiza a discussão sobre campanhas eleitorais no Brasil. Oitenta e quatro por cento dos consultados dizem que as doações de empresas aumentam as chances de corrupção, mas 81% são contra o financiamento público.

O eleitor sabe que o conluio entre dinheiro privado e Estado é fonte de corrupção, mas se opõe ao financiamento público, pois não lhe é visível o fato de que ele também paga a conta do financiamento privado.

As empresas, com frequência, recolhem via corrupção o que investiram no candidato. O prejuízo ao Estado só aparece se estoura um escândalo, caso em que o agente público será execrado, enquanto pouco se dirá sobre o agente privado corruptor. Nada mais brasileiro do que esquecer que corrupção é via de mão dupla.

Ouvem-se três argumentos principais contra o financiamento público: ele não elimina a corrupção, coloca dinheiro do contribuinte nas mãos de corruptos e favorece os partidos mais organizados ou “instala uma ditadura financeira dos partidos” (conforme Elio Gaspari observou em sua coluna de 24/8).

O primeiro é um patente sofisma.

Se observamos que a troca de favores com o dinheiro de campanha é fonte de corrupção, recusar o financiamento público porque ele não a elimina equivale a recusar a Lei Maria da Penha porque ela não acaba com a violência contra a mulher.

Que se estabeleçam os mecanismos de cumprimento da lei, mesmo sabendo que eles não serão perfeitos. O financiamento público não elimina a corrupção, mas ataca sua raiz e facilita a fiscalização.

O segundo se nutre da péssima imagem dos políticos e da premissa de que o cidadão comum seria moralmente superior a eles. Ora, não há indício de que as relações cotidianas não estejam tão perpassadas pela corrupção quanto as políticas. É a colocação do Estado a serviço de interesses privados que corrompe -e essa tem sido uma constante em nossa história, desde as capitanias hereditárias.

O terceiro é, na verdade, uma defesa do financiamento público. Se ele fortalece os partidos mais organizados, eis aí outra razão para adotá-lo. Ele não acabará com as legendas de aluguel, mas tornará sua vida mais difícil. A expressão “ditadura dos partidos” não faz sentido se esses são compostos de cida- dãos livres e entram e saem do poder pelo voto. Oxalá o Brasil escape da situação dos Estados Unidos. Apesar de proibidas as doações de empresas a campanhas, o dinheiro doado a partidos e organizações propagandísticas (as 527s) determina todo o rumo da política. Hoje, 86% dos estadunidenses vê democratas e republicanos do Congresso negativamente, mas uma terceira opção tornou-se inviável, já que o dinheiro corrompeu o sistema político até a medula.

Cuidemos da nossa democracia: o primeiro passo é uma contabilidade equânime, à qual todos tenham acesso. Sai mais barato, inclusive.

 
*IDELBER AVELAR é professor titular na Universidade Tulane e colunista da revista “Fórum”; é co-organizador de “Brazilian Popular Music and Citizenship” e autor de “Alegorias da Derrota” e “The Letter of Violence”.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Turquia, na vanguarda da Primavera Árabe


14/9/2011, Pepe Escobar, Asia Times Online


Finalmente. Cristalinamente claro. Alguém, afinal, disse o que todo mundo – exceto Washington e Telavive – sabe no fundo do coração coletivo mundial: o reconhecimento de um estado palestino “não é escolha, é obrigação”.

E foi prodigioso que o homem que o disse tenha sido o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, no Cairo, para a Liga Árabe, à frente de todos os ministros árabes de Relações Exteriores, com virtualmente todo o mundo árabe de olhos colados às telas de televisão conectadas por satélite, e cada palavra de Erdogan sob cerrado escrutínio.

O atual tour de Erdogan pela Primavera Árabe – como noticiou a imprensa turca – passando por Egito, Tunísia e Líbia, já o havia catapultado ao status de equivalente geopolítico de cruza de Bono, do U2, com o argentino Lionel Messi, superstar da equipe de futebol do Barcelona.

Erdogan teve recepção de estrela do futebol/rock no aeroporto do Cairo – completada com faixas e “Erdogan Herói” brandidas pela Fraternidade Muçulmana. Até falou em árabe à multidão (de “Saúdo a juventude e o povo do Egito. Como vão vocês?” até “Que a paz esteja com vocês”).

Erdogan repetiu várias vezes que “Egito e Turquia andam de mãos dadas”. Mas o subtexto foi ainda mais incendiário. No momento em que dois bons ex-amigos de Israel, Egito e Turquia andam de mãos dadas, Israel foi deixada isolada, de cara para um muro. Não poderia haver desenvolvimento mais radicalmente redemarcador em todo o Levante – coisa que jamais se viu desde os acordos de paz de Camp David, entre Israel e o Egito, em 1978.

 
Divulgador militante modelo

O tour de Erdogan é lição magistral de realpolitik. Está posicionando a Turquia como vanguarda do apoio à causa dos palestinos. Também está posicionando a Turquia no núcleo duro da Primavera Árabe – como apoiador e modelo inspiracional, apesar de, até agora, ainda não ter havido revolução às veras. Está enfatizando uma sólida unidade turco-árabe – planejando, por exemplo, um conselho de cooperação estratégica entre Egito e Turquia.

Além do mais, a coisa toda faz bom sentido em termos de business. A caravana de Erdogan inclui seis ministros e quase 200 empresários turcos – interessados em investir pesadamente em todo o norte da África. No Egito, talvez não igualem os bilhões de dólares já prometidos pela Casa de Saud à junta militar liderada pelo marechal-do-ar Mohammed Tantawi. Mas em 2010, o comércio turco com o Oriente Médio e Norte da África já era de quase $30 bilhões, 27% das exportações da Turquia. Mais de 250 empresas turcas já investiram $1,5 bilhão no Egito.

Crucialmente importante, Erdogan disse ao canal Dream da televisão egípcia: “Não desconfiem do secularismo. Espero que haja estado secular no Egito.” Erdogan referia-se sutilmente à constituição secular da Turquia; ao mesmo tempo, cuidadosamente, lembrava aos egípcios que o secularismo é compatível com o Islã.

O atual modelo turco é enormemente popular na rua egípcia, com partido islâmico moderado no poder (o partido Justiça e Desenvolvimento, AKP); constituição secular; militares – embora fortes – na caserna; e florescente boom econômico (a Turquia foi a economia que mais cresceu, em todo o mundo, no primeiro semestre de 2001).[1]

Esse modelo não é exatamente o que deseja a reacionária Casa de Saud. Prefeririam governo pesadamente islâmico controlado pelas facções mais conservadoras da Fraternidade Muçulmana. Pior: no que tenha a ver com a Líbia, a Casa de Saud adoraria ter lá um emirado amigo, ou, pelo menos, governo salpicado com islâmicos fundamentalistas.

Erdogan também destacou que a “agressividade” de Israel “é ameaça ao futuro do povo israelense”. É música aos ouvidos da rua árabe. O presidente palestino Mahmoud Abbas encontrou-se com Erdogan no Cairo – e confirmou que levará adiante o pedido para que a Palestina seja reconhecida como estado pelo Conselho de Segurança da ONU ainda nesse mês de setembro.

A Palestina será definitivamente aceita como estado membro sem direito a voto pelo plenário da Assembleia Geral da ONU. O problema é o Conselho de Segurança extremamente não representativo – ao qual compete sancionar o direito dos membros plenos, que votam. Claro que Washington vetará. A União Europeia fraturada, fiel ao próprio caráter, ainda não decidiu se votará como bloco. Há forte possibilidade de que Grã-Bretanha e França também vetem o pedido dos palestinos ao Conselho de Segurança.

Mas mesmo que só alcancem o prêmio de consolação de tornar-se estado membro sem voto, ainda assim os palestinos alcançarão uma vitória moral – alinhada com o que deseja a opinião pública mundial. Como estado membro, e mesmo sem o direito a voto, a Palestina poderá tornar-se estado membro da Corte Criminal Internacional, indispensável para processar Israel até o Juízo Final, por violação serial da legislação internacional.

 
Seguir o chefe

O jogo da Turquia vai muito além de algum ‘neo-otomanismo’ – ou nostalgia de reviver dias de superpotência dos séculos 16 e 17. É desenvolvimento natural da política de “zero problemas com nossos vizinhos” do ministro Ahmet Davutoglu das Relações Exteriores – que se move para criar vínculos mais profundos com a maioria desses vizinhos e consolidar o que o próprio Davutoglu define como destino estratégico da Turquia[2].

A Turquia, há alguns anos, abandonou decididamente uma deriva isolacionista do nacionalismo turco. O país parece ter afinal superado o trauma associado ao sonho de unir-se à União Europeia; para todas as finalidades práticas, o sonho foi destruído por França e Alemanha.

Quanto à aliança Israel-Turquia, de fato afastou o mundo árabe e confinou a Turquia a um papel passivo, de marginal sem qualquer ação efetiva no Oriente Médio. Já não é assim. Erdogan pode agora enviar várias mensagens simultâneas a Israel, EUA, União Europeia, a um sortido de líderes árabes e, sobretudo, diretamente à rua árabe.

Davutoglu tem sido relativamente magnânimo em relação a Israel, dizendo que “está sem contato com a região e incapaz de ver as mudanças que estão acontecendo, o que impossibilita que [Israel] mantenha relações saudáveis com os vizinhos”.

Poderia ter acrescentado que com ‘amigos’ como aqueles – Benjamin Netanyahu, como primeiro-ministro; o ex-leão-de-chácara na Moldávia Avigdor Lieberman como ministro de Relações Exteriores; colonos judeus fanáticos ditando políticas – Israel não precisa de inimigos ou, então, que produz inimigos em massa. Foi o próprio governo de Israel que acelerou a aproximação entre Turquia e Egito – o que está deixando Israel totalmente isolada.

O toque de gênio de todo o processo é que Erdogan representa uma democracia em país de maioria muçulmana, fortemente apoiado tanto pelos palestinos quando pelos verdadeiramente pró-democracia na Primavera Árabe. Assim se gera uma conexão direta entre a tragédia dos palestinos e o espírito da Primavera Árabe (que nada tem a ver, vale destacar, com a Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN, bombardear a Líbia, ou com uma junta militar governar o Egito).

Será crucialmente decisivo observar o que acontecerá com o partido AKP, de raízes islâmicas, de Erdogan. É praticamente certo que, nas próximas eleições no Egito, a Fraternidade Muçulmana aparecerá jabeando. É também praticamente certo que a Fraternidade pressionará na direção de relacionamento minimalista com Israel, inclusive com revisão completa dos acordos de Camp David. Teoricamente, a Turquia apoiará tudo isso.

E há ainda o front líbio. No primeiro discurso em Trípoli, o presidente do sinistro Conselho Nacional de Transição, Mustafa Abdel Jailil, destacou que a lei islâmica, Xaria, seria a principal fonte da legislação. Mas acrescentou, rápido: “Não aceitaremos nenhuma ideologia extremista, à esquerda ou à direita. Somos povo muçulmano, por um Islã moderado.”

Não há qualquer sinal ainda, sequer, de que o Conselho de Transição consiga manter a integridade do país, para nem falar de ter condições para promover “Islã moderado”. Os abutres (estrangeiros) continuam rondando. O secretário-geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, andou avisando que a Líbia corre o risco de cair em mãos de extremistas islâmicos, que podem “tentar explorar” o atual vácuo de poder. Não se sabe com clareza que papel terá a Turquia – membro chave da OTAN – numa OTAN plenamente implantada na Líbia.

 
Dores heavy metal do parto

E tudo isso, enquanto as petromonarquias do Golfo Persa – horrorizada com a Primavera Árabe – propuseram ajuda direta anual de $2 bilhões à Jordânia, que assim se integraria ao Conselho de Cooperação do Golfo, também conhecido como Clube Contrarrevolucionário do Golfo. Como clube monarquista, o CCG quer a Jordânia e o Marrocos como novos membros. Mas a cereja do bolo seria, isso sim, uma Líbia monárquica.

Em trilha paralela, os contrarrevolucionários foram forçados pela Turquia a garantir – pelo menos verbalmente, apoio à Palestina. Até o rei Abdullah da Jordânia, sólido aliado dos EUA e único “amigo” de Israel que sobrou no Oriente Médio, já disse que “os futuros palestinos são mais fortes que Israel é hoje”.

Ora, Israel procurou por isso – depois da invasão do Líbano em 2006, do massacre de Gaza, em 2008 e do ataque à flotilha turca em 2010. Em termos de opinião púbica, Israel está frita – e até a contrarrevolução árabe teve de perceber.

Inclui-se aí a Casa de Saud. Ninguém menos que o ex-supremo da inteligência saudita, o príncipe Turki al-Faisal, publicou coluna no New York Times em que diz claramente, “líderes sauditas serão forçadas por pressões domésticas e regionais a adotar política exterior muito mais independente e assertiva”[3] se os EUA vetarem o pedido dos palestinos no Conselho de Segurança.

O príncipe Turki também destacou que tudo deve evoluir em torno de uma solução de dois estados baseado nas fronteiras de antes de 1967 – o que todos os grãos de areia do Sinai sabem que Israel jamais aceitará.

No caso de os EUA vetarem, o príncipe Turki ameaçou que a Arábia Saudita “fará oposição ao governo do primeiro-ministro Nuri al-Maliki no Iraque” e “se separará de Washington no Afeganistão e também no Iêmen”.

Imaginem, então, a Casa de Saud financiando prodigamente uma dupla guerra de guerrilhas por todo o “arco de instabilidade” do Pentágono – sunitas contra xiitas no Iraque, mais os já super hiper turbinados Talibã no Afeganistão –, ao mesmo tempo em que fazem lobby a favor de governos islâmicos no Egito e na Turquia; e, isso, enquanto Egito e Turquia, por sua vez, unem-se plenamente contra uma isolada e furiosa Israel. É. São essas as tais “dores do parto do novo Oriente Médio”.

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NOTAS

[1] “Robust private sector gives Turkey fastest H1 growth worldwide” Zaman, 12/9/2011, em http://www.todayszaman.com/news-256556-robust-private-sector-gives-turkey-fastest-h1-growth-worldwide.html  

[2] Ver “Turkey: the sultans of swing”, Pepe Escobar, 7/4/2011, Asia Times Online, em inglês, e “Fazer andar outra vez o fluxo da história”, Ahmet Davutoglu, Al-Jazeera, 16/3/2011, em português, em http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/03/fazer-andar-outra-vez-o-fluxo-da.html  [NTs].

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Vexame: Globo CENSURA melhor momento de Dilma ao reprisar a entrevista

A TV Globo reprisou a entrevista da presidenta Dilma concedida ao Fantástico, no telejornal da manhã "Bom Dia Brasil". Foi uma edição mais compacta, com cortes, mais ainda assim com 10 minutos, o suficiente para preservar os trechos mais relevantes.

E adivinhem justamente o quê a TV Globo cortou?

O ponto mais alto e brilhante da entrevista, de maior relevância para o jornalismo, quando a entrevistadora Patrícia Poeta ficou sem saber o que dizer diante de uma resposta fulminante de Dilma à uma pergunta que queria embaraçá-la. A própria Presidenta precisou salvar a entrevistadora do constrangimento, resgatando para o lado do bom-humor.

A emissora acusou o golpe. Manteve a pergunta, mas cortou a parte mais importante da resposta, deturpando o teor da entrevista.


Eis o trecho em vídeo CENSURADO pela Globo:






Eis o trecho transcrito que foi ao ar no domingo, no Fantástico, sem cortes:









Eis o trecho transcrito que foi ao ar na manhã seguinte, no Bom Dia Brasil, com os cortes da CENSURA da Globo:










Observe que o trecho que foi ao ar no domingo, transcrito e assinalado em amarelo, foi CORTADO, CENSURADO!

Justamente o trecho em que Dilma fulminou à queima-roupa: - Você me dá um exemplo do "dá cá" e eu te explico o "toma lá"...

Uma vergonha essa CENSURA tirando palavras que saíram dos lábios de uma Presidenta em uma entrevista exclusiva.

É mais um vexame do padrão trapaceiro de jornalismo da TV Globo.

A TV Globo repetiu, em menor escala, o método daquela vergonhosa trapaça na eleição de 1989 entre Lula e Collor, quando levou ao ar um compacto do último debate só os melhores momentos de Collor e só os "piores" momentos de Lula, deturpando a realidade do que foi o debate e trapaceando a informação entregue ao telespectador e eleitor.



Em tempo:

A íntegra da entrevista sem cortes pode ser vista nos links:

Parte 1: http://www.youtube.com/user/FUUUHD#p/u/0/zapfF15JCio

Parte 2: http://www.youtube.com/user/FUUUHD#p/u/1/4QnOsZoXRGg

domingo, 11 de setembro de 2011

Faço daqui 70 minutos 59 anos. Muita coisa tem mexido e determinado uma atenção especial na minha reflexão. Não faz sentido viver numa casa onde você não consegue se sentir morador e parceiro na condução da estrutura e das relações entre os moradores. A Casa que me refiro é a Terra e não está limitado ao país que vivo (Brasil). É muito difícil falar sobre tudo que representa essa questão, essa realidade, mas também pode ser compreendida pelo detalhe da micro exemplificação. Quero usar esse espaço prá essa discussão e quero desafiar aqueles que acompanham e têm a mesma sensação de desconforto com o que está acontecendo com o nosso mundo. Quero entrar nos 60 anos com uma proposta de participar de uma revolução no nosso modo ser ser e participar. Quero ser feliz com todos que defendem e querem um mundo melhor, justo e socialista.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

¡Piratas! - 9 Translation(s) | dotSUB

Juro que preferia não mostrar essa barbária. Que isso fosse apenas uma invenção. Confesso que saber da verdade, da mêdo. Prefiro acreditar que DEUS exite e que em breve vai tomar partido, nem que seja uma limpeza indiscriminada, feita pela própria força da natureza. Vou começar a pedir que isso aconteça, pois desse jeito tenho vergonha de Ser Humano. Cari.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Secretário-Geral da ONU fará bate-papo no Facebook e outras redes sociais


Ouvir / Baixar Perguntas podem ser enviadas em oito línguas incluindo português; resposta será dada ao vivo de 11 às 12 horas, horário de NY, em 13 de setembro.
 




Ban Ki-moon

Mônica Villela Grayley, da Rádio ONU em Nova York.






O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, fará o seu primeiro bate-papo com internautas no próximo dia 13 de setembro.

Ban responderá perguntas sobre as Nações Unidas enviadas em oito idiomas incluindo o português.

Líderes Internacionais

A conversa será transmitida ao vivo pelo Facebook, Twitter e outros sites de mídia social incluindo o webcast da ONU.

Ban Ki-moon estará à disposição dos internautas por uma hora a partir de 11 da manhã, horário de Nova York.

A conversa ocorrerá poucos dias antes da abertura dos debates da Assembleia Geral com líderes internacionais.

Algumas das perguntas são sobre o combate à fome, o fim das guerras e até mesmo sobre os detalhes do cargo de chefe das Nações Unidas.

Você pode enviar perguntas em português diretamente ao site do Secretário-Geral ou para a nossa página na internet: http://radio.un.org/por

Epitáfio para outro 11 de setembro


30/8/2011, Ariel Dorfman, The Nation (ed. impressa de 19/9/2011)



Naquele 11 de setembro, daquela manhã letal de 3ª-feira, acordei apavorado, ao som de aviões que sobrevoavam minha casa. Quando, uma hora depois, vi fumaça subindo do centro da cidade, soube que a vida havia mudado para mim, para meu país, para sempre.

Era 11 de setembro de 1973, o país era o Chile, e as forças armadas haviam bombardeado o palácio presidencial em Santiago, no primeiro estágio de um golpe contra o governo democraticamente eleito de Salvador Allende. No fim do dia, Allende estava morto, e a terra na qual havíamos tentado uma revolução pacífica fora transformada em matadouro. Passar-se-iam duas décadas, a maior parte das quais vivi no exílio, antes de derrotarmos a ditadura e recuperar nossa liberdade.

28 anos depois daquele dia fatídico de 1973, noutro 11 de setembro, também uma manhã de 3ª-feira, foi a vez de outra cidade também minha cidade ser atacada do alto, e choveu outro tipo de terror, mas, outra vez, o coração cheio de medo, confirmei que nada nunca mais seria como antes, nem para mim, nem para o mundo. Já não se tratava de uma pátria afetada, nem de um povo que sofreria as consequências da fúria e do ódio, mas o planeta inteiro.

Nos últimos dez anos, várias vezes me vi pensando, intrigado, sobre essa justaposição de datas; não consigo tirar da cabeça a ideia de que há alguma espécie de significado oculto por trás ou dentro da coincidência. É possível que minha obsessão seja resultado de viver nos dois países no exato instante dos dois massacres, de tal modo que essas duas cidades assaltadas constituem as pedras angulares da minha identidade híbrida. Porque cresci criança que aprendia inglês em New York e passei minha adolescência e o começo da idade adulta apaixonando-me em espanhol em Santiago, e porque sou tão norte quanto sul-americano, não posso deixar de tomar pessoalmente a destruição paralela de vidas de compatriotas inocentes, esperando que se aprenda o que haja para aprender da dor e da assustadora confusão.

Chile e EUA mostram, com efeito, modelos contrastantes de como reagir a um trauma coletivo.

Qualquer nação que tenha padecido sofrimento tão grande enfrenta séries fundamentais de perguntas que testam seus valores mais profundos. Como buscar justiça para os mortos e reparação para os vivos? Pode-se restaurar o equilíbrio de um mundo partido, cedendo à compreensível sede de vingança contra nossos inimigos? Não nos expomos ao risco de nos transformarmos neles, sob o perigo de nos convertermos em sombra perversa deles – não estamos ameaçados de ser governados pela nossa ira?

Se 9 de setembro puder ser visto como teste, parece-me, infelizmente, que os EUA fracassaram. O medo gerado por uma pequena gangue de terroristas levou a uma sequência tão devastadora de ações que excederam em muito o sofrimento pelo qual passamos no suplício original. Duas guerras desnecessárias que ainda prosseguem, um colossal desperdício de recursos que poderiam ter sido aplicados para salvar nosso meio ambiente e educar nossas crianças, centenas de milhares de mortos e mutilados, milhões de expatriados e deslocados, uma desgraçada erosão dos direitos civis nos EUA e o uso da tortura e da entrega de prisioneiros a torturadores estrangeiros, que acabaram por servir como carta branca para que outros regimes atacassem os direitos humanos. E por último, mas não menos importante, o crescimento de um já excessivo estado de segurança nacional que se alimenta numa uma cultura de mentiras, espionagem, incerteza e insegurança.

O Chile também poderia ter respondido à violência, com mais violência. Se algum dia houve justificativa para pegar em armas contra poder tirânico, a luta dos chilenos satisfazia todos os critérios. Mas o povo chileno e os líderes da resistência – com poucas tristes exceções – decidiram derrotar o general Pinochet pela não violência ativa, tomando de volta para nós o país que nos fora roubado, palmo a palmo, organização por organização, até derrotá-lo num plebiscito que ele poderia ter vencido, mas não venceu. O resultado não foi perfeito. A ditadura ainda contamina a sociedade chilena, mesmo muitas décadas depois de perder o poder. Mas, feitas todas as contas, como exemplo de como criar paz duradoura a partir de perdas e sofrimentos inenarráveis, o Chile comprovou-se decidido a não permitir que jamais voltasse a acontecer outro 11 de setembro de morte e destruição.

O que há de mágico nessa decisão de combater o mal por meios pacíficos é que os chilenos ecoaram, sem saber, mais um 11 de setembro, de 1906, em Johannesburg, quando Mohandas Gandhi persuadiu vários milhares de indianos como ele, num Teatro Império, a aprovar a resistência não violenta contra o governo daquele apartheid injusto e discriminatório. Aquela estratégia da Satyagraha, com o tempo, levaria à independência da Índia e a muitos outros momentos em que se conquistou paz e justiça pelo mundo; levou inclusive ao surgimento do movimento pelos direitos civis nos EUA.

105 anos depois do memorável convite de Mahatma, para que se imaginasse um meio para escapar da armadilha da ira, 38 anos depois daqueles aviões que me acordaram pela manhã, para ensinar-se que eu nunca mais conseguiria escapar do terror, dez anos depois de a New York dos meus sonhos de infância ser destruída pelo fogo, espero que o epitáfio perfeito para todos esses 11 de setembro sejam as palavras imortais de Gandhi: “A violência só derrotará a violência, quando alguém me demonstrar que alguma escuridão possa ser iluminada por mais escuridão.”

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Síntese da MIDIA IMPRESSA

Selic/surpresa/pressão – Corte na Selic pelo BC para 12% ao ano divide os jornais entre aqueles cujos títulos falam que Copom surpreendeu o mercado com a redução e os que destacam que o Comitê de Política monetária cedeu a pressão do governo. Valor, em “BC surpreende o mercado e corta taxa básica de juro em 0,5 ponto”, informa que o Copom surpreendeu o mercado e decidiu reduzir a taxa de juros básica Selic em 0,5 ponto percentual, para 12% ao ano. Anota que a decisão não foi unânime, com cinco integrantes votando pelo corte e dois pela manutenção da taxa anterior, de 12,5%. Registra declaração em off de fonte do governo: “"O cenário internacional mudou muito depois da última reunião do Copom, está demolidor e pegou nossa economia em franca desaceleração". Jornal afirma que visão preponderante foi de que a crise nos países centrais terá efeitos sobre a economia brasileira: por um lado, de moderar o crescimento e, por outro, de conter a inflação. Daí a abertura para baixar juro. Brasil Econômico e O Globo acompanham linha de Valor em, respectivamente, “BC surpreende mercado, muda de rumo e reduz taxa de juros em 0,5 ponto”,e “BC surpreende e reduz a taxa de juros após apelo de Dilma”. Globo relata que “na véspera, de 11 instituições ouvidas, todas apostavam que a taxa continuaria em 12,5%, diante da alta da inflação”. Acrescenta que “no mesmo dia, a presidente Dilma Rousseff defendera abertamente o corte nos juros, o que foi interpretado por analistas como uma ingerência política no Banco Central”. Jornal informa que, “num longo comunicado ao mercado”, divulgado após a reunião, “o BC tenta justificar o corte dizendo que houve uma "substancial deterioração do cenário internacional", com uma crise que pode demorar mais que o previsto, o que reduziria de forma significativa as pressões inflacionárias no Brasil”. Globo afirma que Dilma quer baixar os juros reais (descontada a inflação) de 6,5% para 2% a 3% ao ano. Folha, Estadão e Correio endossam a tese da pressão. Folha, “Sob pressão, BC reduz juro a 12%” [formulação idêntica traz o Correio]; Estado, “Pressionado, BC alega crise externa e baixa juros para 12%”. Folha diz que “analistas do mercado consideraram a decisão do Banco Central um movimento arriscado e o interpretaram como um sinal de que a diretoria da instituição cedeu a pressões que vinha sofrendo do governo para baixar os juros e evitar uma desaceleração muito forte da atividade econômica”. Dá aspas nessa direção para ex-ministros de FHC Luiz Carlos Mendonça de Barros, “"A independência do BC está arranhada. Ele é hoje um órgão auxiliar do Ministério da Fazenda", e Carlos Langoni: "Seria um grande retrocesso o BC voltar a atuar cedendo a pressões políticas. Isso teria consequências negativas para o crescimento de longo prazo que depende muito da expectativa de estabilidade." Internamente, Folha diz que “Decisão do Banco Central foi acertada com governo”.

Orçamento – Jornais destacam na capa projeto de orçamento para 2012, com enquadramentos diferentes. Brasil Econômico lhe dá manchete, “Orçamento de 2012 reduz gastos, mas preserva investimento social”; Folha, “Investimentos caem no Orçamento de 2012”; Estado, “Orçamento ignora rigor fiscal; mínimo vai a R$ 619”; Globo usa formulação cifrada “Entre o dito e o escrito” – [proposta] “indica que haverá um rigor fiscal menor”; Correio, “Serviço público vai abrir 141 mil vagas” – com ênfase, seguindo a linha de jornal sediado em Brasília, na criação de oportunidades no serviço público. Valor só noticia internamente, “Para indicar rigor, orçamento de 2012 reduz desconto permitido para o PAC”.

Turismo – Estado noticia na capa que “Fraude no Turismo tem 21 denunciados”. Informa que a Procuradoria da República do Amapá denunciou 21 pessoas pelo desvio de R$ 4 milhões em convênios do Ministério do Turismo. Relata que, entre os denunciados, estão dois ex-secretários executivos do ministério, Frederico Silva Costa e Mário Moysés, e Colbert Martins, afastado do cargo de secretário nacional de Programas e Desenvolvimento do Turismo. Anota que os três chegaram a ser presos pela Operação Voucher, da Polícia Federal, em 9 de agosto. Folha, também na capa, “Procuradoria denuncia cúpula do Turismo”. Esporte – Estadão informa na capa, em “Convênio em xeque”, que o Ministério do Esporte define hoje se rompe contrato de RS 8,2 milhões para cadastramento de torcidas, que não saiu do papel. A CGU quer explicações do ministro Orlando Silva. Diz que pasta convoca cartolas e pode suspender convênio de R$ 6,2 milhões. Em entrevista ao Estado, o presidente do Sindicato, Mustafá Contursi, informou que a entidade ainda analisa a capacidade operacional do cadastramento. O ministério nega relação do projeto com a Copa, mas Estado diz que é documento da pasta que estabelece essa relação.

Copa-14/Maracanã – Folha noticia na capa que “TCU manda cortar R$ 97 milhões em obra do Maracanã”. O órgão, diz jornal, identificou sobrepreço de R$ 163 milhões na reforma do Maracanã, no Rio, onde será a final da Copa, e mandou reduzir valor da obra. Informa que, após negociação com o Estado, acertou-se um corte de R$ 97 milhões, totalizando o valor da obra em R$ 859,4 milhões. Desmate – Estado destaca na capa que “Copa justifica desmate, segundo novo código”. Noticia que a "urgência" das obras da Copa do Mundo foi o motivo apontado para a proposta de autorizar o corte de vegetação nativa em áreas de preservação permanente (APPs) para a construção de estádios e "demais instalações necessárias", segundo a nova proposta de reforma do Código Florestal em debate no Congresso Nacional. Relata que a nova versão da legislação ambiental foi apresentada pelo senador Luiz Henrique (PMDB-SC), relator nas próximas três comissões pelas quais a reforma de Código Florestal será analisada: Constituição e Justiça, Agricultura e Ciência e Tecnologia. Anota que primeira votação foi adiada para o dia 14.

Dengue/epidemia – Globo chama na capa, em “Mobilização geral contra dengue”, que o prefieto da cidade, Eduardo Paes, declarou ontem que lamentava informar que a cidade terá "uma epidemia de dengue nesse verão no Rio. A posição hoje é que todos os dados apontam para isso: será a maior epidemia da história da cidade". O aviso para um problema que, segundo o jornal, especialistas já vinham alertando desde o início do ano, foi dado a quatro meses da chegada do verão, quando há condições ideais para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença. Paes assinou um decreto declarando estado de alerta na cidade e lançou uma ofensiva contra a doença com um pacote de medidas, entre elas o fumacê e a entrada compulsória em imóveis fechados.

Comércio exterior/recorde – Valor, na capa, informa que “Exportação e importação batem recorde”. Notícia é que transações bateram recorde em agosto. Diz que o resultado será anunciado hoje pelo Ministério do Desenvolvimento, mas especialistas esperam que o governo confirme vendas ao exterior em torno de US$ 26 bilhões e compras acima de US$ 22 bilhões no mês passado. Jornal registra que o total de importações e exportações, a corrente de comércio do país, vai chegar perto de meio trilhão de dólares, segundo previsão da Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior. Valor diz também que o ministro Fernando Pimentel revelou ao jornal que pretende anunciar hoje uma nova revisão da meta de exportações. Em maio, a pasta já havia revisto o valor de US$ 228 bilhões para US$ 245 bilhões. O maior responsável pelo desempenho são os produtos básicos, como soja, petróleo e café. Em outra chamada de capa, Valor aponta que “Commodities agrícolas mantêm alta”. Brasil Econômico chama na capa que “Indústria volta a crescer em julho, anuncia IBGE”.